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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

O Baú: Darren Aronofsky

Última quarta-feira do mês, n’O Baú, que será sempre dedicada a nome do cinema, seja de um diretor, ator, atriz, roteirista, etc.


Darren Aronofsky, diretor, produtor e roteirista



FILMOGRAFIA COMPLETA:
Pi – 1998
Réquiem para um Sonho (Requiem for a Dream) – 2000
A Fonte da Vida (The Fountain) – 2006
O Lutador (The Wrestler) – 2008
Cisne Negro (Black Swan) – 2010

Darren Aronofsky, nascido em 1969, é um dos diretores da atualidade que alcançou o título de autor, mesmo com uma filmografia pequena. Viajando por histórias diferentes e sempre as transmitindo através de um estilo único, Aronofsky reflete a loucura do ser humano criando personagens sempre perturbados, encaixados em roteiros originais.

Seu primeiro filme foi Pi, uma estréia incomum para qualquer um que pretenda se firmar na carreira cinematográfica. Visualmente poluído e perturbador, é um filme cujo intuito é deixar o espectador desconfortável, tal como o personagem Max, um matemático à procura de um padrão na bolsa de valores. Pi é considerado um ensaio para seu segundo filme, Requiem for a Dream, que rendeu uma indicação ao Oscar para Ellen Burstyn, assustadora no papel. A montagem frenética do uso das drogas e dos remédios, da interferência do externo ao interno, da agitação de uma mente levada à loucura, é agora mostrada com uma freqüência muito maior, nessa história sobre pessoas lidando com seus vícios. Tudo arquitetado do começo ao fim para jogar o espectador ao caos da vida daqueles personagens. É impossível sair de um filme de Aronofsky sem algumas perdas de fôlego.


Seu terceiro trabalho não comparável a nenhum outro de sua filmografia. The Fountain, um dos maiores divisores de águas da década, teve duas sessões no Festival de Veneza; a primeira foi vaiada, a segunda recebeu aplausos que duraram 10 minutos. Esse é o efeito intencionado, e se dá pelo fato de The Fountain tocar em pontos primários da existência humana: a origem e o destino de tudo no universo, e como esses dois pontos são primordiais comparados a tudo que vem no meio, ou seja, a nossa percepção de “vida” e, conseqüentemente, de “morte”. As interpretações são variadas, e a sensibilidade da história (para os que entenderem as nuances) pode ser assustadora para aqueles que têm medo de serem confrontados com suas próprias existências universais.


Em seguida, vieram dois filmes que, assim como Pi e Requiem for a Dream, se complementam em linguagem narrativa: The Wrestler, sobre um lutador de ringue vendo sua vida pessoal entrar em colapso (talvez o trabalho mais ameno e “pé no chão” do diretor, indicando Mickey Rourke à Melhor Ator e vencendo de Melhor Atriz para Marisa Tomei), e o filme que é considerado por muitos sua obra-prima, Black Swan, indicado ao Oscar de Melhor Filme, Diretor, Fotografia e ganhando a estatueta de Melhor Atriz para Natalie Portman, fantástica no papel, sobre uma bailarina que, buscando a perfeição e tentando conhecer melhor seu lado negro, se torna uma máquina de paranóia e alucinações. Ambos os filmes se tratam de pessoas tão obcecadas pelo que fazem, que acabam se esquecendo do que são e se perdem no emaranhado do cotidiano, colhendo infelicidades em suas vidas pessoais (e no caso de Black Swan, a perda da sanidade mental também). The Wrestler conta com uma realidade unidimensional e sem maiores confrontos com o que é real, apenas o drama pessoal do protagonista e suas tentativas de remendá-los. Já o outro mostra uma personagem que se perde no desastre que é uma vida obsessiva e acaba não sabendo mais diferenciar o que é real para a sociedade, o que é real para ela, e o que não é real para nenhum dos dois.


Trabalhos minuciosos que mexem com a “anatomia mental” e te levam a pensar sobre o que é uma impressão. Aquilo é real, ou é uma projeção de uma idéia minha? Ou pior, a projeção de uma idéia de outra pessoa? Por saber trabalhar com maestria em cima disso, escolhi falar sobre Darren Aronofsky por ele acentuar cada vez mais o meu gosto por filmes fortes, intensos e que dissequem o que o ser humano tem de mais insano. Nesse quesito, atualmente não há linguagem melhor que a dele. Seja por distúrbios causados por remédios ou manias, como em Pi e Requiem for a Dream, ou pela loucura e obstinação que brotam de dentro de nós mesmos, como em The Wrestler ou Black Swan, ou até mesmo por um filme que mexa com nossos princípios das forças mais primordiais do cosmo, como em The Fountain, Aronofsky sabe mexer com a gente, e nos influenciar positiva ou negativamente. Depende de como você se posiciona sobre os assuntos discutidos. Mas afinal, o que define um bom contador de histórias não é isso? Saber mexer com quem as ouve? No fim, causar impacto é o ponto principal.

Seu próximo filme será uma reconstrução da história da Arca de Noé, além de dirigir um episódio-piloto para uma série nova da HBO. Julgando por sua filmografia até agora, é de se esperar que sejam novos trabalhos tensos, como sempre, e do jeito que aprendemos a amar com ele. Resume-se a isso: Aronofsky nos ensinou a amar uma nova categoria no transtorno humano, uma que é igualmente pesada, mas com tons absolutamente novos.

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