Direção: Tate Taylor
Elenco: Emma Stone, Viola Davis, Octavia Spencer, Bryce Dallas Howard, Jessica Chastain, Allison Janney
Baseado
no livro homônimo escrito por Kathryn Stockett, o diretor e roteirista
estreante Tate Taylor nos entrega a fábula de 2011. The Help tem todas as características de um verdadeiro conto com
estruturas clássicas: existe apenas um lugar, sem um universo concreto lá fora,
com aqueles personagens, os mocinhos e os vilões e os que andam na linha que
divide os dois lados, um enredo e narrativa sem grandes dimensões, com acontecimentos
rasos e divertidos, mas que entregam a grande mensagem do filme; a questão
racial com as empregadas domésticas negras nos anos 60, através de retratos
focados nos personagens, que representam o grande “compromisso com a realidade”
do filme.
Os
anos 60 foram marcados por uma era de grande desigualdade racial, onde patroas
“donas-de-casa perfeitas”, que não tinham uma vida além de cuidar dos maridos,
maltratavam suas empregadas, as enxergando apenas como matéria de serventia. No
filme, uma jovem recém-formada em jornalismo (Emma Stone, de Easy A, atriz que está crescendo cada
vez mais em Hollywood), que tinha tudo para ir pelo caminho de suas amigas,
decide fazer algo a respeito em prol da igualdade, e começa a escrever um livro
expondo o ponto de vista das domésticas, com a ajuda das empregadas Aibileen
(Viola Davis, vencedora do Oscar por Doubt
e indicada pelo papel em discussão), que viu seu filho ser morto e está sempre
relutante, vivendo com medo, e Minny (Octavia Spencer, de vários filmes de
comédia, também indicada ao Oscar), que sofre nas mãos de sua patroa Hilly
(Bryce Dallas Howard, de Lady in the
Water).
A
iniciativa de se contar uma história de raízes existentes com uma linguagem de
estrutura quase infantil foi um verdadeiro divisor de águas com crítica e
público. Entender que o roteiro não precisava de profundidade na caracterização
e na construção dos personagens foi difícil, porque por fim, a essência da luta
pela igualdade racial mora em como a história se desenrola e as pequenas lições
que os personagens (e nós) aprendemos com tudo isso. Sem delongas, sem
especificidades; apenas aquele lugar, aquelas pessoas, e aquele problema que
sofrem. O restante do mundo está passando por isso também, mas o que nos interessa
é apenas o universo de The Help,
colorido e com uma arte belíssima. Compreender isso é o que permite que o filme
seja apreciado como realmente é e da maneira que foi planejado.
As
personagens, todas femininas (a presença dos personagens masculinos não é
relevante), são a graciosidade do filme, sejam elas de índole boa ou ruim.
Todas com o porte da época, caindo propositalmente em clichês. Skeeter (Stone)
e sua mãe (Allison Janney, de Juno),
são as protagonistas que fogem dos estereótipos e vivem os conflitos de serem
as únicas que não seguiram os passos que a sociedade atual impõe; uma convive
bem com isso, a outra não. Aibileen e Minny, melhores amigas, têm um
relacionamento de encher os olhos, e seus arcos particulares são fortes e
verdadeiros exemplos de redenção, cruzando com as histórias de Hilly, a
verdadeira “vilã” do filme, e Celia (Jessica Chastain, de The Tree of Life, também indicada ao Oscar pelo papel em
discussão), uma dona-de-casa que acabou de ingressar nessa vida de vizinhança
perfeita. Todas muito bem em seus respectivos papéis, com destaque especial à
Davis, Spencer e Chastain.
Trata-se
de uma intensidade representada por tons leves, mas que não abandona o que
realmente veio fazer. Qualquer cena que fosse visualmente mais forte (que
existem sim no filme, mas não predominam), tornaria tudo muito apelativo, e o
cinema hoje, com praticamente todas as histórias possíveis já contadas, precisa
buscar novas maneiras de contá-las. Essa é a grande inovação cinematográfica
atual, não “o quê”, mas “como”. A manipulação da narrativa é o que indica que
não só o enredo foi bom, mas o filme também, conceito ainda mais presente se
estivermos lidando com uma adaptação de um livro.
Tate
Taylor soube lidar com o assunto, fazendo de The Help um filme emocionante, acessível e de absorção simples. Não
necessariamente o mais forte, mas meu preferido para o Oscar de 2012.
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