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sábado, 11 de fevereiro de 2012

The Iron Lady

Filme: A Dama de Ferro (The Iron Lady), 2011
Direção: Phyllida Lloyd

Elenco: Meryl Streep, Jim Broadbent, Olivia Colman




Há uma necessidade de um carinho especial para com o personagem ao realizar um filme biográfico. O diretor/roteirista cai no risco de esquecer de que está se tratando de uma figura que existiu, que importou para o mundo, que fez grandes coisas fora do universo fictício do filme. Em suma, um filme biográfico deve sempre ressaltar o que aquele personagem foi realmente, e para isso, precisa de tempo, precisa de referência e conhecimento, precisa de exposição dos fatos (da maneira artística que for de escolha do diretor) e, acima de tudo, precisa de alguém para se mascarar daquela persona com perfeição. Afinal, a grande maioria dos atores que já interpretaram uma figura real passou meses e meses se preparando para o papel, estudando minuciosamente as características da pessoa, seus trejeitos, suas motivações, sua sociabilidade, etc. Se não estiver definido na linguagem do filme de que aquilo é uma distorção, uma caricatura ou um desvirtuamento dos fatos reais, existe um compromisso com a verdade e com a história. E The Iron Lady conseguiu alcançar parte desses “requisitos” de um retrato.

O filme possui um único grande trunfo, apenas um elemento que o impede de ser esquecido daqui alguns anos; a presença de Meryl Streep, interpretando com força de espírito a Primeira-Ministra da Inglaterra Margaret Thatcher, conhecida como A Dama de Ferro por seu governo marcante e de longa duração. Streep faz parte de uma geração de atrizes que tinham uma característica em comum: a atuação num nível acima de força no movimento, de dicção brusca e de dramaticidade repentina e marcante. Encarnando Margaret Thatcher, ela expressa na rigidez do corpo e das expressões faciais nada além de poder absoluto. Domínio, controle sobre tudo aquilo, uma mulher que se tornou uma das figuras femininas mais significativas da história. Sua atuação recebeu críticas negativas dos familiares de Thatcher, que a chamaram de fantasiosa, o que se encaixa perfeitamente na ressalva de que o filme talvez tenha se esquecido de que se tratava de uma coisa real. Caricaturando ou não, foi sem dúvidas um trabalho metódico e poderoso, principalmente na fase senil da ministra, onde não conseguia aceitar o fato de que seu governo acabou e que seu marido faleceu, chegando a alucinar com a presença dele. Apesar da recepção negativa de quem realmente conheceu e conviveu com Thatcher, muitos críticos afirmam que a atriz foi o ponto positivo do filme.

Ironicamente, talvez a grande performance vencedora do Globo de Ouro (e provavelmente do Oscar) foi o que atrapalhou o andamento do enredo. A impressão que fica é a de que conseguiram Streep - em minha opinião, a melhor atriz que existe – para interpretar Thatcher, e fizeram o filme ao redor disso, processo que, se feito com o mesmo empenho no sentido inverso, talvez teria obtido um resultado muito melhor. Margaret Thatcher foi responsável por algumas das maiores mudanças na estrutura governamental da Inglaterra, realizando seus feitos num governo que durou 11 anos; retomou as Ilhas Falkland da Argentina, fechou minas de baixo desempenho, causando uma greve violenta entre os mineiros, instalou impostos nos anos 80 gerando um “boom” econômico no país, tudo isso apertado num filme de 1h40 de duração, retratado juntamente com a vida pessoal da ministra em três períodos diferentes; sua decisão de fazer alguma coisa útil e importante aos 20 anos, quando ingressa na faculdade e conhece seu futuro marido; sua campanha e eleição para Primeira-Ministra e seu tempo em posse do cargo; e por fim, sua aposentadoria e saúde mental afetada. Pouco tempo para muita coisa. Tentam compensar isso com a atuação e uma estética diferenciada. Tudo muito belo plasticamente, mas pecando fortemente no conteúdo. Se o argumento do filme fosse representar tudo isso sucintamente pelo foco principal na imagem, então estaria tudo certo. Mas mesmo que quisessem representar Thatcher como A MULHER, não A MINISTRA, faltou o elemento da identificação, da construção como personagem, da motivação, etc.

A diretora Phyllida Lloyd já conhece Meryl Streep de outras águas; ambas trabalharam juntas no musical Mamma Mia!. Enquanto no musical o trabalho com as cores é intenso, quase explosivo, para combinar com os personagens, músicas e cenários, tudo em The Iron Lady é pastel e fraco, remetendo à classe social, à seriedade de um governo em colapso e, ao mesmo tempo, à elegância de uma personagem subindo mais e mais no status em sua busca por fazer a diferença no mundo. Unido a um trabalho competente de angulações e enquadramentos, forma uma direção com objetivo extremo na estética. Mais uma vez, comprovando que o foco do filme passou longe da biografia de realizações da ministra. O roteiro, como já pontuado antes, é compactado à duração curta do filme, mas repleto de diálogos fortes e memoráveis (os principais já entregues no trailer do filme). Fotografia, montagem e direção de arte são também grandes contribuintes para a elegância que o filme emite, o figurino clássico, o cabelo emanando poder, as jóias sempre presentes...

The Iron Lady foi um trabalho agradável para todos aqueles que pré-determinaram o que queriam ver no filme e qual mensagem queriam tirar dele. Tivessem trabalhado com mais determinação nos feitios da grande Margaret Thatcher, acabaríamos com um filme que faria jus à mulher titular: poderoso, cheio de personalidade e inspirador.




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