Direção: Sam Mendes
Elenco: Kevin Spacey, Annette Bening, Chris Cooper, Thora Birch, Mena Suvari, Wes Bentley
Qualquer
reflexão que eu possa esboçar aqui será puramente pessoal. Afinal, a seção O
Baú é meu coração sendo aberto com filmes que significaram muito para mim; o
que eles têm de bom, de importante, de especial, uma análise que vai muito além
da técnica.
Para
iniciar O Baú, escreverei sobre o filme mais especial e incrível que já assisti;
American Beauty, vencedor do Oscar de
Melhor Filme, Diretor, Roteiro e Ator em 2000, dirigido pelo grande “filósofo
cinematográfico” Sam Mendes, e escrito por Alan Ball.
Qual
a definição de beleza? Um homem de feições exuberantes, uma mulher carinhosa e
solidária, uma flor nascendo no meio da rua, ou um animal morto no asfalto, uma
pessoa violenta ou alguma coisa leve sendo levada pelo ar. Tudo, e nada. Basta
abrirmos nossa mente e entender que tudo possui uma unicidade, tudo existe e é
pleno, e tudo tem o seu papel a desenrolar no universo. Se tivermos isso sempre
em mente, estamos aptos a enxergar a beleza além das obviedades. Não apenas a
beleza escancarada e visível, mas sim a das entrelinhas, a pequena e quase
insignificante, mas de valor igual às grandiosas. É um tipo de visão necessária
para a verdadeira apreciação do mundo ao seu redor e melhor compreensão do ser
humano e das maneiras que o universo age sobre eles. É o entendimento da vida
em total plenitude.
Eu
não sei se tenho essa visão. Creio que ninguém sabe ao certo se a tem. Mas eu,
desde criança, procuro entender melhor o que é enxergar as coisas, qual o valor
delas, e o que elas estão fazendo ali, naquele lugar e naquela hora, apenas...
existindo. E é exatamente por isso que, ao ver American Beauty pela primeira vez, soube instantaneamente que
aquele era o filme da minha vida, e nunca nenhum outro tiraria esse posto. Pois
Mendes e Ball souberam colocar no quadro várias das vertentes existentes em
APRECIAR O MUNDO AO SEU REDOR, e que o conceito de beleza das pessoas varia,
porque as pessoas se variam entre si.
O
brilhante Kevin Spacey (de 21,
vencedor do Oscar pelo papel em discussão) é Lester Burnham, um homem comum,
numa vizinhança comum, com uma família comum, e que vê aos poucos sua vida
definhar em meio à rotina ordinária de tudo ao seu redor. Ele não possui mais o
brilho de sua juventude feliz. Sua esposa Carolyn (a mais brilhante ainda
Annette Bening, de The Kids Are All Right,
indicada ao Oscar), não tem mais paixão alguma, se tornou frígida e amarga, e
se perde em superficialidades de uma dona-de-casa dos subúrbios enquanto tenta
passar a imagem da família perfeita. A filha Jane (Thora Birch, de Hocus Pocus) é uma jovem revoltada que
se fecha para o mundo e faz o possível para odiar alguma coisa. A “família
feliz” janta à luz de velas, cumprimenta os vizinhos sorridente, e mantém o
jardim intacto, tudo como fachada para disfarçar suas vidas miseráveis que
foram sugadas pelo buraco negro do ordinário. Completando o elenco, Mena Suvari
(de American Pie) é uma jovem promíscua e que se considera perfeita, com o medo
obsessivo de se tornar feia e comum. Wes Bentley (de Ghost Rider) é o vizinho ao lado, que possui a visão apta ao belo,
e Chris Cooper (vencedor do Oscar por Adaptation)
é seu pai militar violento, exigente e preconceituoso. O filme retrata a
jornada desses personagens em busca de algo que os faça se sentirem vivos
novamente. Traições, empregos novos e relacionamentos incomuns são os fatores
que os levam a descobrirem coisas novas sobre si mesmos, e de uns aos outros.
Situações
descontraídas servem para contar essa história de intensidade ímpar sobre a
perda do brilho da vida e a tentativa de retomá-lo. O roteiro é repleto de
diálogos inteligentes, a direção é das mais geniais e criativas, o elenco é
inteiro composto de atores incríveis. Em outras palavras, é o filme perfeito.
Para
o melhor entendimento da essência de American
Beauty, eis uma fala do filme, de quando o personagem Ricky (Bentley) leva
Jane ao seu quarto para mostrar “a coisa mais linda que ele já filmou”. Ele
então coloca uma fita com uma gravação de uma sacola plástica voando.
“Era
um daqueles dias quando se está a um minuto de nevar, e há uma eletricidade que
você quase pode escutar. E esse saco estava dançando comigo. Como uma criança
implorando para brincar com ela. Por quinze minutos. Esse foi o dia que percebi
que existe uma vida inteira por trás das coisas, e uma força incrivelmente
benevolente que queria que eu soubesse que não há motivo para ter medo, nunca.
O vídeo é pobre, eu sei. Mas me ajuda a lembrar... Eu preciso lembrar... Às
vezes, há tanta beleza no mundo, que eu sinto que não vou agüentar, e meu
coração vai apenas desmoronar.”
Original:
“It was one of those days when it's a minute away from snowing
and there's this electricity in the air, you can almost hear it. Right? And
this bag was just dancing with me. Like a little kid begging me to play with
it. For fifteen minutes. That's the day I realized that there was this entire
life behind things, and this incredibly benevolent force that wanted me to know
there was no reason to be afraid, ever. Video's a poor excuse, I know. But it
helps me remember... I need to remember... Sometimes there's so much beauty in
the world, I feel like I can't take it, and my heart is just going to cave in.”
É o trecho que define o filme, e talvez, minha
vida. Essa é a mensagem final de American
Beauty. O mundo está repleto de coisas de beleza imensurável, mas o homem
não está ainda preparado para vê-las dessa maneira. Quando se souber aproveitar
a vida plenamente, poderá se deparar com um saco plástico no meio da rua e
entender que ele é lindo, que ele é único, que é repleto de uma energia maior
por trás dele que o movimenta, que o é, que o permite ser. É a palavra final em
VIVER, que é, afinal, o que todos nós precisamos aprender.
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