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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

O Baú: American Beauty

Filme: Beleza Americana (American Beauty), 1999
Direção: Sam Mendes
Elenco: Kevin Spacey, Annette Bening, Chris Cooper, Thora Birch, Mena Suvari, Wes Bentley





Qualquer reflexão que eu possa esboçar aqui será puramente pessoal. Afinal, a seção O Baú é meu coração sendo aberto com filmes que significaram muito para mim; o que eles têm de bom, de importante, de especial, uma análise que vai muito além da técnica.

Para iniciar O Baú, escreverei sobre o filme mais especial e incrível que já assisti; American Beauty, vencedor do Oscar de Melhor Filme, Diretor, Roteiro e Ator em 2000, dirigido pelo grande “filósofo cinematográfico” Sam Mendes, e escrito por Alan Ball.

Qual a definição de beleza? Um homem de feições exuberantes, uma mulher carinhosa e solidária, uma flor nascendo no meio da rua, ou um animal morto no asfalto, uma pessoa violenta ou alguma coisa leve sendo levada pelo ar. Tudo, e nada. Basta abrirmos nossa mente e entender que tudo possui uma unicidade, tudo existe e é pleno, e tudo tem o seu papel a desenrolar no universo. Se tivermos isso sempre em mente, estamos aptos a enxergar a beleza além das obviedades. Não apenas a beleza escancarada e visível, mas sim a das entrelinhas, a pequena e quase insignificante, mas de valor igual às grandiosas. É um tipo de visão necessária para a verdadeira apreciação do mundo ao seu redor e melhor compreensão do ser humano e das maneiras que o universo age sobre eles. É o entendimento da vida em total plenitude.

Eu não sei se tenho essa visão. Creio que ninguém sabe ao certo se a tem. Mas eu, desde criança, procuro entender melhor o que é enxergar as coisas, qual o valor delas, e o que elas estão fazendo ali, naquele lugar e naquela hora, apenas... existindo. E é exatamente por isso que, ao ver American Beauty pela primeira vez, soube instantaneamente que aquele era o filme da minha vida, e nunca nenhum outro tiraria esse posto. Pois Mendes e Ball souberam colocar no quadro várias das vertentes existentes em APRECIAR O MUNDO AO SEU REDOR, e que o conceito de beleza das pessoas varia, porque as pessoas se variam entre si.

O brilhante Kevin Spacey (de 21, vencedor do Oscar pelo papel em discussão) é Lester Burnham, um homem comum, numa vizinhança comum, com uma família comum, e que vê aos poucos sua vida definhar em meio à rotina ordinária de tudo ao seu redor. Ele não possui mais o brilho de sua juventude feliz. Sua esposa Carolyn (a mais brilhante ainda Annette Bening, de The Kids Are All Right, indicada ao Oscar), não tem mais paixão alguma, se tornou frígida e amarga, e se perde em superficialidades de uma dona-de-casa dos subúrbios enquanto tenta passar a imagem da família perfeita. A filha Jane (Thora Birch, de Hocus Pocus) é uma jovem revoltada que se fecha para o mundo e faz o possível para odiar alguma coisa. A “família feliz” janta à luz de velas, cumprimenta os vizinhos sorridente, e mantém o jardim intacto, tudo como fachada para disfarçar suas vidas miseráveis que foram sugadas pelo buraco negro do ordinário. Completando o elenco, Mena Suvari (de American Pie) é uma jovem promíscua e que se considera perfeita, com o medo obsessivo de se tornar feia e comum. Wes Bentley (de Ghost Rider) é o vizinho ao lado, que possui a visão apta ao belo, e Chris Cooper (vencedor do Oscar por Adaptation) é seu pai militar violento, exigente e preconceituoso. O filme retrata a jornada desses personagens em busca de algo que os faça se sentirem vivos novamente. Traições, empregos novos e relacionamentos incomuns são os fatores que os levam a descobrirem coisas novas sobre si mesmos, e de uns aos outros.

Situações descontraídas servem para contar essa história de intensidade ímpar sobre a perda do brilho da vida e a tentativa de retomá-lo. O roteiro é repleto de diálogos inteligentes, a direção é das mais geniais e criativas, o elenco é inteiro composto de atores incríveis. Em outras palavras, é o filme perfeito.

Para o melhor entendimento da essência de American Beauty, eis uma fala do filme, de quando o personagem Ricky (Bentley) leva Jane ao seu quarto para mostrar “a coisa mais linda que ele já filmou”. Ele então coloca uma fita com uma gravação de uma sacola plástica voando.

“Era um daqueles dias quando se está a um minuto de nevar, e há uma eletricidade que você quase pode escutar. E esse saco estava dançando comigo. Como uma criança implorando para brincar com ela. Por quinze minutos. Esse foi o dia que percebi que existe uma vida inteira por trás das coisas, e uma força incrivelmente benevolente que queria que eu soubesse que não há motivo para ter medo, nunca. O vídeo é pobre, eu sei. Mas me ajuda a lembrar... Eu preciso lembrar... Às vezes, há tanta beleza no mundo, que eu sinto que não vou agüentar, e meu coração vai apenas desmoronar.”

Original: It was one of those days when it's a minute away from snowing and there's this electricity in the air, you can almost hear it. Right? And this bag was just dancing with me. Like a little kid begging me to play with it. For fifteen minutes. That's the day I realized that there was this entire life behind things, and this incredibly benevolent force that wanted me to know there was no reason to be afraid, ever. Video's a poor excuse, I know. But it helps me remember... I need to remember... Sometimes there's so much beauty in the world, I feel like I can't take it, and my heart is just going to cave in.”

É o trecho que define o filme, e talvez, minha vida. Essa é a mensagem final de American Beauty. O mundo está repleto de coisas de beleza imensurável, mas o homem não está ainda preparado para vê-las dessa maneira. Quando se souber aproveitar a vida plenamente, poderá se deparar com um saco plástico no meio da rua e entender que ele é lindo, que ele é único, que é repleto de uma energia maior por trás dele que o movimenta, que o é, que o permite ser. É a palavra final em VIVER, que é, afinal, o que todos nós precisamos aprender.




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