Filme: Os Homens Que Não Amavam as Mulheres (The Girl With
the Dragon Tattoo), 2011
Direção: David Fincher
Elenco: Daniel Craig, Rooney Mara, Christopher Plummer, Stellan Skarsgard, Robin Wright
Elenco: Daniel Craig, Rooney Mara, Christopher Plummer, Stellan Skarsgard, Robin Wright
A
intensidade de uma história reside no teor de sua narrativa e nos
acontecimentos do enredo. E se essa história já foi trabalhada em outras mídias
e linguagens, é quase uma questão de respeito manter pelo menos a essência. The Girl with the Dragon Tattoo começou
como um livro, primeiro da trilogia Millennium, sobre a questão da violência
contra a mulher ilustrada numa história investigativa sobre um jornalista, uma
detetive e um caso morto de 40 anos. Ganhando prêmios e reunindo uma legião de
fãs, logo surgiu a primeira adaptação para o cinema em 2009, uma produção sueca
fiel ao arco principal e aos protagonistas do livro, que também soube manter a
questão da violência, da loucura, do crime e da obstinação dos personagens. Com
o sucesso internacional do filme (e com a trilogia toda já adaptada para o
cinema), surgiu a versão americana, que ao contrário do que alguns meios de
publicidade deram a impressão, não se trata de um remake do filme sueco, mas
sim de uma segunda adaptação do livro, dessa vez na indústria hollywoodiana.
Que, nas mãos de David Fincher, foi uma versão mais completa, concisa,
instigante e bem produzida desse conto que emite morbidez e energia ao mesmo
tempo.
A
começar pela abertura do filme. Perfeição. Uma montagem digital exibindo
diversos elementos da história, concretos ou metafóricos; o que se passa na
mente dos dois protagonistas, seus trabalhos, suas rotinas, em meio a um caos
sombrio de imagens e Immigrant Song
tocando ao fundo. Mas já havíamos aprendido com Seven que Fincher sabe captar as nuances das histórias de seus
filmes logo na abertura. E com o pontapé sufocante, o filme começa sem
delongas. A premissa é apresentada rapidamente, os personagens e seus dramas já
são logo representados na primeira meia-hora, e as duas horas que se seguem são
dedicadas à investigação e solução de um caso já esquecido pela polícia; um
magnata do universo industrial da Suécia (Christopher Plummer, de Beginners) convoca um jornalista
desacreditado (Daniel Craig, dos 007
mais recentes) para finalmente tentar descobrir o que aconteceu com sua
sobrinha Harriet, desaparecida há 40 anos. Enquanto isso, a detetive Lisbeth
Salander (Rooney Mara, de The Social
Network, indicada ao Oscar pelo papel), uma jovem problemática, rebelde e
brilhante, acaba se envolvendo na investigação ao perceber que se trata de um
caso de violência contra a mulher.
Percebe-se
na direção que a atenção da história é voltada à Lisbeth. Ela é a cara dos
livros e dos filmes, é o que todos lembram inicialmente quando pensam em
Millennium. Os planos mais bem elaborados são os que ela está presente, a
expectativa quanto ao casting era de “quem vai interpretar Lisbeth?”, a
caracterização do conteúdo do filme é a partir dela. O que nos leva à Rooney
Mara, e seu futuro promissor no cenário cinematográfico...
Foi Noomi Rapace que encarnou Lisbeth na versão sueca, tão bem atuado e
recebido que projetou a atriz rapidamente a Hollywood. A caracterização foi um
pouco mais extremista: se tratando de uma garota punk, não economizaram na
imaginação ao colocá-la em roupas de couro com faixas, espinhos de metal, e
penteados absurdos. Já no caso americano, foram mais realistas, o que me
agradou muito mais: ela é simplista, mas deixa seu visual e estilo bem esclarecidos.
A atuação de Rapace é mais forte e conceitual; a de Mara é mais melancólica,
quase fantasmagórica. A presença dela em cena é quieta, quase pacífica, e ainda
assim, sabendo o que e quem ela é, chega a ser assustadora. Eu não diria que
foi a melhor atuação, mas foi com certeza o que transportou Mara a um novo
patamar de reconhecimento e respeito.
O
filme sueco Låt den rätte komma in (Deixa
Ela Entrar, em português) teve um remake americano onde a
nacionalidade de todos os personagens passou do sueco para o estadunidense.
Tratava-se de uma nova versão da mesma história, apropriando-se ao comércio
cinematográfico em questão. The Girl with the Dragon Tattoo, como já citado
acima, não foi um remake, mas sim uma segunda adaptação do livro, que se passa
na Suécia com personagens suecos. Tentando se manter fiel e ainda assim se
apropriando à língua, os personagens do filme falam inglês com sotaque, o que incomoda
muito e atrapalha a atuação. Não consigo levar a sério, acho forçoso e quase
cômico, o que é uma preocupação válida quanto à coerência. Por que estão todos
falando inglês, se estão e são de outro país? Existe uma necessidade de
adequação muito mais forte em casos como esse, e a solução deve ser trabalhada
de maneira muito mais meticulosa.
Ainda na questão da adequação ao cinema americano, já tinha formado em
mente o quanto esse filme teria ressalvas e ocultaria cenas fortíssimas da
história. Foi surpreendente ver tudo explícito e mais claro impossível, até
mesmo porque tocar em assuntos tão delicados e se guardar na hora de
ilustrá-los é visualmente decepcionante. A imagética pura é essencial quando se
quer passar uma mensagem através do cinema. Combine as cenas e roteiro sinceros
com uma direção elegante e uma história muitíssimo bem construída e intrigante
ao extremo, ganhamos um dos melhores filmes de 2011.
Craig e Mara já estão com seus contratos assinados para os dois outros
filmes. Fincher ainda não se garantiu como o diretor. Mas espaço para o futuro,
esse filme deixou de sobra, mais ainda que a versão sueca. Agora é torcer para
que o brilho e a energia continuem no seguimento desse conto fantástico.
Eu vi Deixa Ela Entrar, foi minha primeira experiência "non-Hollywood". Até que gostei!
ResponderExcluirE não li o Millennium, mas pelo que li sobre ele, a caracterização dela ficou bem legal, mesmo.
Pra mim, a cena em que ela tortura o Bjurman (é esse o nome dele?) na segunda vez que vai à casa dele. Juro, me senti tão bem no cinema vendo isso! hahahahahaha
E a abertura do filme, pelo menos pra mim, foi BEM 007. Você não achou?
Beijo!
Posso descordar?
ResponderExcluirAssisti a trilogia sueca. Achei os filmes muito bem feitos do ponto de vista técnico. 'Os Homens Que Não Amavam as Mulheres' sueco é infinatamente melhor que este americano. Sendo que, como você disse, a abertura 'uma perfeição'. Na minha opinião é o há que de melhor no filme, junto com diretor David Ficher, que eu gosto muito, e só. O filme sueco é (muito) superior em tudo. Os americanos são falsos moralistas e vemos isso nesta 'segunda' filmagem. Recheado de pudores e tambem cheio de resumos, diálogos ruins, cenas de ação fraquissimas e a atriz Rooney Mara idem. Diferente da atriz Noomi Rapace que, simplesmente arrasou e minou qualquer possibilidade de outra atriz superá-la. Tudo que o filme sueco caprichou, este americano desandou. Tudo no filme sueco estava em cima, na medida, no americano faltou ou foi de menos. Inclusive o final. Muito capenga e totalmente sem sentido. Talvez se o diretor David Fincher e os produtores, tivessem adaptado e transposto a ação para EUA, teria tido um resultado bem melhor. É uma questão de ponto de vista.
Emídio