Em
primeiro lugar, a cerimônia. A escolha de Billy Crystal para ser o host,
substituindo Eddie Murphy que abandonou o cargo, foi uma tentativa – bem
sucedida, podemos dizer – de consertar o fracasso que foi a premiação de 2011.
Anne Hathaway tentou segurar a barra, então pelo menos tem esse mérito. Já
James Franco foi o bastante para estragar aquilo sozinho, no que deve ter sido
um dos maiores arrependimentos da produção do Oscar em 84 anos. Crystal sabe
ser divertido sem ofender e manter a seriedade quando necessário. Some isso com
apresentações do Cirque Du Soleil e uma homenagem ao cinema em sua plenitude
que perdurou em todos os momentos da noite, com depoimentos emocionantes e
sinceros, é notável uma melhora do ano passado para cá.
As
premiações foram quase totalmente satisfatórias. A seguir, comentários divididos
em categorias.
MELHOR FILME
The Artist
The Descendants
Extremely Loud and Incredibly Close
The Help
Hugo
Midnight in Paris
Moneyball
The Tree of Life
War Horse
And the Oscar goes to… THE ARTIST
The Artist não é um filme bom nem ruim. Por mais vazia que
a descrição possa parecer, ele é o que é. Mais que um filme, ele é uma
homenagem e um estilo aderido para surtir exatamente esse efeito. Por que mais
alguém faria um filme arquitetado para parecer dos anos 20, se não para causar
alguma sensação extra? E é justamente por isso, mesmo tendo gostado do filme,
que eu não queria que ele levasse o prêmio. Acho um apelo dos maiores premiarem
de Melhor Filme uma obra cuja intenção foi ser saudosista. Não que eu tenha
achado uma isca para o Oscar, não gosto quando marcam um filme dessa maneira. E
não concordei com a vitória por achar que existiam filmes melhores que The Artist, que transcendiam o cinema de
qualidade sem a homenagem do vitorioso, como por exemplo, Hugo, The Help e Extremely Loud and Incredibly Close, meu
preferidos. Mas reconheço a qualidade e o mérito de The Artist, e realmente não acho que foi uma perda de estatueta.
Seria se tivesse ido para The Tree of
Life, Moneyball e, em algumas
escalas específicas, The Descendants.
War Horse e Midnight in Paris nunca foram candidatos fortes para essa
categoria. Concluindo, a Academia diz querer se desvencilhar dos que a chamam
de previsível, mas mais uma vez demonstrou isso esse ano.
*
MELHOR
DIRETOR
Woody
Allen, por Midnight in Paris
Terrence Malick, por The Tree of Life
Alexander Payne, por The Descendants
Michel Hazanivicius, por The Artist
Martin Scorsese, por Hugo
And the Oscar goes to... MICHEL HAZANIVICIUS – THE ARTIST
O
mesmo que tenho a dizer sobre o filme serve para a direção. Analise o enredo e
perceba que não há nada de inovador na história de The Artist. O filme é a direção, então essa categoria foi justa. Já
Terrence Malick fez um trabalho que, apesar de ter sido um dos que mais odiei
de 2011, desperta uma intenção por trás disso. Só a odiei por, ao invés de
tê-la enxergado, só vi uma grande pretensão fracassada. Woody Allen como
diretor é firmado, e Alexander Payne idem. Scorsese era meu preferido, pela
auto inovação, abordagem diferente e trabalho de mestre.
*
MELHOR
ATOR
George
Clooney, por The Descendants
Brad Pitt, por Moneyball
Jean Dujardin, por The Artist
Demián Bichir, por A Better Life
Gary Oldman, por Tinker Tailor Soldier
Spy
And the Oscar goes to… JEAN DUJARDIN – THE ARTIST
Sem
dúvida, um trabalho que requereu método e pesquisa e obteve um bom resultado.
Ainda assim preferia Gary Oldman, em sua primeira indicação ao Oscar. Clooney
demonstrou algumas expressões novas em momentos de aflição, mas no geral foi a
mesma coisa de sempre. Pitt idem. Ainda não pude conferir Bichir em A Better Life.
*
MELHOR
ATRIZ
Glenn
Close, por Albert Nobbs
Viola Davis, por The Help
Rooney Mara, por The Girl with the Dragon
Tattoo
Meryl Streep, por The Iron Lady
Michelle Williams, por My Week with
Marilyn
And the Oscar goes to… MERYL STREEP – THE IRON
LADY
A
categoria bittersweet da noite. Viola
Davis me comoveu como há tempos uma atuação não me comovia; foi emoção a nível
molecular, tanto na nossa reação quanto na interpretação dela. A Margaret
Thatcher de Meryl Streep foi sensacional em apenas alguns momentos, em outros
foi apenas boa. Por isso minha torcida ficava com Davis. Mas poder ter
presenciado pela primeira vez Streep, rainha Meryl, ganhando um merecido Oscar,
foi uma sensação extracorpórea. A dama do cinema já mereceu mais em outros anos
(como em Julie & Julia em 2010),
mas foi simplesmente lindo. Contrariando a quase unanimidade, achei Williams
brilhante como Marilyn Monroe, e Mara quase brilhante como Lisbeth Salander. Ainda
não conferi Albert Nobbs, mas Glenn
Close é sempre excelente também. É o que eu sempre digo: as categorias de atriz
são sempre as mais difíceis.
*
MELHOR
ATOR COADJUVANTE
Kenneth
Branagh, por My Week with Marilyn
Jonah Hill, por Moneyball
Nick Nolte, por Warrior
Christopher Plummer, por Beginners
Max von Sydow, por Extremely Loud and Incredibly Close
And the Oscar goes to… CHRISTOPHER PLUMMER – BEGINNERS
Todos
os outros candidatos estavam requintados em seus filmes. Branagh shakesperiano,
como sempre. Hill em seu primeiro (e último?) papel fora do humor. Mas Plummer
e von Sydow transportaram sozinhos a categoria para um nível muito mais forte
de atuação, e Plummer, realmente melhor, levou o prêmio. Ele em Beginners como o paciente terminal que
decide finalmente assumir a homossexualidade foi único.
*
MELHOR
ATRIZ COADJUVANTE
Bérénice
Bejo, por The Artist
Jessica Chastain, por The Help
Melissa McCarthy, por Bridesmaids
Janet McTeer, por Albert Nobbs
Octavia Spencer, por The Help
And the Oscar goes to… OCTAVIA SPENCER – THE HELP
Como
já dito, a categoria mais difícil. Não achei Bejo tão brilhante quanto Dujardin
e não vi o trabalho de McTeer, mas não sabia para quem torcer: Chastain,
Spencer ou McCarthy? Três papéis humorísticos (os dois primeiros com toques
dramáticos) e desempenhos completamente diferentes, mas igualmente perfeitos. A
inocente e cabeça-de-vento de Chastain, a relutante e espirituosa de Spencer,
ou a atirada e durona de McCarthy. No fim, levou Spencer, mas a vitória de
qualquer uma das três teria me deixando contente.
*
MELHOR
ROTEIRO ORIGINAL
Michel
Hazanavicius, por The Artist
Kristen Wiig e Annie Mumolo, por Bridesmaids
J.C. Chandor, por Margin Call
Woody Allen, por Midnight in Paris
Asghar Farhadi, por A Separation
And the Oscar goes to… WOODY ALLEN – MIDNIGHT IN PARIS
Secretamente
torcia por Bridesmaids, não só por
ter sido uma história bem contada (e é isso que a Academia procura em roteiro),
mas também porque seria ÉPICO Kristen Wiig, uma das melhores atrizes de comédia
que existem ganhar um Oscar por roteiro. No fim, Allen levou, e é claro que
merecidamente. Os roteiros dele são sempre de outro mundo, e a arrogância idem;
como já esperado, Allen, com uma atitude de “tenho coisa melhor a fazer”, não
foi à cerimônia.
*
MELHOR
ROTEIRO ADAPTADO
Alexander
Payne, Nat Faxon e Jim Rash, por The
Descendants
John Logan, por Hugo
George Clooney, Grant Heslov e Beau Willimon, por The Ides of March
Steven Zaillian e Aaron Sorkin, por Moneyball
Bridget O’Connor e Peter Straughan, por Tinker
Tailor Soldier Spy
And the Oscar goes to… ALEXANDER PAYNE, NAT
FAXON E JIM RASH – THE DESCENDANTS
The Descendants foi realmente bem escrito, um dos poucos pontos
que o filme tem a seu favor. Por mim, Hugo ganharia em todas as categorias que
foi indicado, mas todos esses filmes tiveram bons roteiros.
*
MELHOR
ANIMAÇÃO
A Cat in Paris
Chico and Rita
Kung Fu Panda 2
Puss in Boots
Rango
And the Oscar goes to… RANGO
Em
primeiro lugar, não vou deixar de expressar meu inconformismo com o fato de The Adventures of Tintin e Rio não terem sido indicados. Se o
primeiro tivesse ido, ganharia com certeza. Mas Rango era a segunda opção mais forte. Eu adoro Kung Fu Panda, primeiro e segundo, e A Cat in Paris e Chico and
Rita parecem ser incríveis (tanto em enredo quanto animação), mas levou
quem merecia.
*
MELHOR
TRILHA SONORA
Ludovic
Bource, por The Artist
John Williams, por The Adventures of
Tintin
Howard Shore, por Hugo
Alberto Iglesias, por Tinker Tailor
Soldier Spy
John Williams, por War Horse
And the Oscar goes to… LUDOVIC BOURCE – THE ARTIST
Óbvio,
não? A de Hugo é arrepiante, a de The Adventures of Tintin é excitante ao
extremo, mas ganhou o filme que contou com a trilha para sua sobrevivência.
Compreensível, mas não gosto.
*
MELHOR
CANÇÃO ORIGINAL
Bret
McKenzie, por “Man or Muppet”, de The Muppets
Sérgio Mendes, Carlinhos Brown e Siedah Garrett, por “Real in Rio”, de Rio
And the Oscar goes to… BRET MCKENZIE – THE MUPPETS
Adoro
tanto a trilha de The Muppets quanto
a de Rio, e por isso mesmo acho que
deveriam ter incluído mais canções dos dois filmes nessa categoria. Só Enchanted teve três músicas em 2008. Até
mesmo a música de Madonna para seu filme W.E.,
“Masterpiece”, merecia estar aí. Se
eu achava que “Real in Rio” era
melhor? Sim, com certeza.
*
MELHOR
EDIÇÃO DE SOM
Lon
Bender e Victor Ray Ennis, por Drive
Ren Klyce, por The Girl with the Dragon
Tattoo
Philip Stockton e Eugene Gearty, por Hugo
Ethan van der Ryn e Erik Aadahl, por Transformers:
Dark of the Moon
Richard Hymns e Gary Rydstrom, por War
Horse
And the Oscar goes to… PHILIP STOCKTON E EUGENE
GEARTY – HUGO
A
mixagem de Hugo é muito mais forte
que a edição, por isso que nessa categoria, eu torcia pela perfeição de
captação que foi Drive, filme que
merecia até mais algumas outras indicações, bom demais.
*
MELHOR
MIXAGEM DE SOM
David
Parker, Michael Semanick, Ren Klyce e Bo Persson, por The Girl with the Dragon Tattoo
Tom Fleischman e John Midgley, por Hugo
Deb Adair, Ron Bochar, David Giammarco e e Ed Novick, por Moneyball
Greg P. Russell, Gary Summers, Jeffrey J. Haboush e Peter J. Devlin, por Transformers: Dark of the Moon
Gary Rydstrom, Andy Nelson, Tom Johnson e Stuart Wilson, por War Horse
And the Oscar goes to… TOM FLEISCHMAN E JOHN
MIDGLEY – HUGO
Moneyball e
o “não sabemos qual outro filme indicar na categoria, então vai esse mesmo
porque foi bem sincronizadinho, etc”. A série Transformers, por mais absurdamente terrível que seja, merece
elogios em mixagem e efeitos especiais, isso é incontestável. Levou Hugo,
maravilhoso.
*
MELHOR
DIREÇÃO DE ARTE
Laurence
Bennett e Robert Gould, por The Artist
Stuart Craig e Stephanie McMillan, por Harry
Potter and the Deathly Hallows – Part 2
Dante Ferretti e Francesca Lo Schiavo, por Hugo
Anne Seibel e Hélène Dubreuil, por Midnight
in Paris
Rick Carter e Lee Sandales, por War Horse
And the Oscar goes to… DANTE FERRETTI E FRANCESCA LO SCHIAVO – HUGO
A
melhor, sem dúvida. E por mais que eu quisesse que Harry Potter, a história da minha vida, ganhasse um Oscar em sua
última chance, havia candidatos melhores em todas as categorias em que foi
indicado. Uma
pena, mas é a verdade.
*
MELHOR
FOTOGRAFIA
Guillaume
Schiffman, por The Artist
Jeff Cronenweth, por The Girl with the
Dragon Tattoo
Robert Richardson, por Hugo
Emmanuel Lubezki, por The Tree of Life
Janusz Kaminski, por War Horse
And the Oscar goes to… ROBERT RICHARDSON – HUGO
O
único prêmio que eu acho que The Tree of
Life poderia ter ganhado. Sem contar War
Horse, trabalho exuberante de iluminação. Mas Hugo é Hugo.
*
MELHOR
MAQUIAGEM
Martial
Corneville, Lynn Johnson e Matthew W. Mungle, por Albert Nobbs
Nick Dudman, Amanda Knight e Lisa Tomblin, por Harry Potter and the Deathly Hallows – Part 2
Mark Coulier e J. Roy Helland, por The
Iron Lady
And the Oscar goes to… MARK COULIER E J. ROY
HELLAND – THE IRON LADY
Glenn
Close e Janet McTeer, ainda como homens e apesar da maquiagem incrível,
continuavam parecendo um pouco Glenn Close e Janet McTeer. Meryl Streep como
uma senil Margaret Thatcher foi irreconhecível, parte por atuação, parte por
maquiagem.
*
MELHOR
FIGURINO
Lisy
Christl, por Anonymous
Mark Bridges, por The Artist
Sandy Powell, por Hugo
Michael O’Connor, por Jane Eyre
Arianne Phillips, por W.E.
And the Oscar goes to… MARK BRIDGES – THE ARTIST
UM
ABSURDO! Todos
os outros candidatos tinham figurinos excepcionalmente melhores que The Artist. Prefiro então nem entrar no assunto.
*
MELHOR
EDIÇÃO
Anne-Sophie
Bion e Michel Hazanavicius, por The
Artist
Kevin Tent, por The Descendants
Angus Wall e Kirk Baxter, por The Girl
with the Dragon Tattoo
Thelma Schoonmaker, por Hugo
Christopher Tellfsen, por Moneyball
And the Oscar goes to… ANGUS WALL E KIRK BAXTER
– THE GIRL WITH THE DRAGON TATTOO
Muitíssimo
merecido, montagem elegante e frenética de The Girl
with the Dragon Tattoo. E até The Artist
poderia levar essa.
*
MELHORES
EFEITOS ESPECIAIS
Tim
Burke, David Vickery, Greg Butler e John Richardson, por Harry Potter and the Deathly Hallows – Part 2
Rob Legato, Joss Williams, Ben Grossman e Alex Henning, por Hugo
Erik Nash, John Rosengrant, Danny Gordon Taylor e Swen Gillberg, por Real Steel
Joe Letteri, Dan Lemmon, R. Christopher White e Daniel Barrett, por Rise of the Planet of the Apes
Scott Farrar, Scott Benza, Matthew E. Butler e John Frazier, por Transformers: Dark of the Moon
And the Oscar goes to… ROB LEGATO, JOSS
WILLIAMS, BEN GROSSMAN E ALEX HENNING – HUGO
Rise of the Planet of the Apes foi um trabalho de efeitos especiais quase
revolucionário que com certeza merecia o reconhecimento. Mas todos os concorrentes
eram bons nessa categoria, e Hugo era o mais singelo.
*
Não
comentarei as categorias Melhor Filme Estrangeiro, Melhor Documentário, Melhor
Curta Documentário, Melhor Curta e Melhor Curta Animação, pois não conferi
nenhum dos indicados.
O
que pensar do 84° Academy Awards? Mais uma vez apelativo, mais uma vez
previsível? Eu diria que, no que se tratou de premiar The Artist, foi. No restante, satisfatório.
Para ler sobre alguns dos filmes indicados no blog: