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quarta-feira, 28 de março de 2012

O Baú: Woody Allen

Woody Allen, diretor, roteirista, ator e comediante.




FILMOGRAFIA SELECIONADA:
What’s Up, Tiger Lily? – 1966
Take the Money and Run – 1969
Bananas – 1971
Everything You Always Wanted to Know About Sex* (*But Were to Afraid to Ask) – 1972
Sleeper – 1973
Love and Death – 1975
Annie Hall – 1977
Interiors – 1978
Manhattan – 1979
Stardust Memories – 1980
A Midsummer Night’s Sex Comedy – 1982
Zelig – 1983
Broadway Danny Rose – 1984
The Purple Rose of Cairo – 1985
Hannah and Her Sisters – 1986
Radio Days – 1987
September – 1987
Another Woman 
– 1988
Crimes and Misdemeanors – 1989
Alice 
– 1990
Shadows and Fog – 1991
Husbands and Wives – 1992
Manhattan Murder Mystery – 1993
Bullets Over Broadway – 1994
Mighty Aphrodite – 1995
Everyone Says I Love You – 1996
Deconstructing Harry – 1997
Celebrity – 1998
Sweet and Lowdown – 1999
Small Time Crooks – 2000
The Curse of the Jade Scorpion – 2001
Hollywood Ending – 2002
Anything Else – 2003
Melinda and Melinda – 2004
Match Point – 2005
Scoop – 2006
Cassandra’s Dream – 2007
Vicky Cristina Barcelona – 2008
Whatever Works – 2009
You Will Meet a Tall Dark Stranger – 2010
Midnight in Paris – 2011

Woody Allen (ou Allan Stewart Konigsberg), nascido em 1935, é o mestre das palavras da história do cinema. Por mais que alguém possa não admirar seu trabalho, Allen fala tantas verdades sobre tudo em seus roteiros pontuados com habilidade natural, que é impossível não sair pelo menos identificado com alguma coisa de algum filme. Afinal, sua característica mais forte é a criação do personagem, onde ele próprio, sempre muito pensativo e confrontador, se coloca na construção daquela pessoa e transmite todas suas opiniões e perspectivas através de enormes diálogos. Levando seus filmes dessa maneira, Allen nos proporciona os melhores roteiros, ideias e personagens de todos os tempos há quase 50 anos, e é um dos autores de cinema que mais merecem reconhecimento e clamor por seu trabalho marcante.

A base e o background de Allen é a comédia. Pouquíssimas vezes algum de seus filmes deixa uma impressão pesada, porque sempre o maior dos problemas rotineiros de moradores de cidades grandes é retratado descontraidamente, olhando pelo lado positivo – ou mais leve – dele. É perceptível através de suas histórias que o próprio autor é uma pessoa conflitante e que não descansa a mente quando se trata de pensar sobre o mundo e tudo que há nele. Seus filmes já cobriram todos os capítulos dramáticos e cômicos e românticos que uma pessoa pode vivenciar, e que ele com certeza já vivenciou ou ao menos idealizou. Casos e problemas sempre situados em metrópoles, principalmente Manhattan, lugar que o diretor idolatra e expõe sempre, e geralmente num meio artístico, muitas vezes traçando um paralelo entre aquele enredo com aquela cidade e aquela arte.

Como roteirista, ele costuma levantar questões existenciais e geralmente se confronta com a realidade através do protagonista (onde várias vezes encarnou o personagem no filme), coisa que acaba fazendo o espectador se confrontar também. O uso da paranoia, do questionamento, da indecisão, da troca em relacionamentos, da coragem para largar tudo e mudar de vida, da epifania, das críticas à sociedade, da discussão de pontos de vista na arte, entre outros, são elementos que se repetem no decorrer de sua filmografia.

Sobre a correlação autor-personagem, há vários exemplos que comprovam que aquilo que estamos vendo é nada mais que o próprio Allen. Em Celebrity e Match Point, por exemplo, temos os personagens interpretados por Kenneth Branagh (de My Week with Marilyn) e Jonathan Rhys Meyers (de August Rush), respectivamente. Ambos se deixavam levar pelo amor e desejo, e no instante em que uma coisa nova surgia, eles não pensavam duas vezes e deixavam tudo o que haviam construído para trás. Isso reflete o escândalo que Allen viveu nos anos 90, ao deixar sua esposa Mia Farrow, até então musa de seus filmes, e ficar com a filha adotiva dela, que ele havia criado como pai desde sua infância. Outro exemplo é o das rodas de artistas boêmios em bares e restaurantes, como no início de Bullets Over Broadway e Melinda and Melinda: cineastas, escritores e músicos (assim como Allen, mestre no clarinete) que discutem sobre o que é o ponto de vista artístico, se ele se sobressai à vida real, e com quais linhas de pensamento devemos levar essas questões.


O romance, não como amor mas como relacionamento, é fortemente adicionado como base dos enredos de seus filmes. Parte disso se dá pelo protagonista irreverente, quase meio bobão, que se atrapalha com a vida e com o mundo que o rodeia. Mas outra grande parte disso é por conta das personagens femininas, mulheres idealizadas pelo diretor, através das quais diversas atrizes entregaram performances inesquecíveis. A utilização da atriz é tratada com cuidado por Allen; tanto cuidado que ele ganhou a reputação de lançá-las ao Oscar constantemente. Assim como nos anos 80 e 90 ele atuava nos papéis masculinos, na época ainda estava casado com Mia Farrow, e escalava a esposa nos papéis femininos, uma vez que ela também era assunto de enredos nos roteiros. E além de Farrow, Allen colecionou musas no decorrer da carreira: Diane Keaton, Dianne Wiest, Scarlett Johansson, apenas mulheres onde ele viu refletidas suas ideias e conceitos sobre complicação dentro da perfeição. E suas protagonistas são sempre muito complicadas, mas ainda assim, despertam desejo por serem construídas a partir do retrato pronto da mulher contemporânea.

De alguns anos para cá, Allen mudou o foco de seu cenário de Manhattan para a Europa, a fim de tratar a arte plástica em sua plenitude e local de origem. Filmes como Annie Hall, Manhattan e Hannah and her Sisters fazem do distrito nova-iorquino uma chave que desencadeia acontecimentos. A cidade faz parte daquilo, e essa característica se manteve ao mudar para Londres (em Scoop, Match Point e You Will Meet a Tall Dark Stranger), Barcelona (em Vicky Cristina Barcelona), Paris (em Midnight in Paris) e Roma em To Rome with Love, seu próximo filme que estreia em 2012. Enquanto em Manhattan os personagens buscam o moderno e arte contemporânea, na Europa Allen tentou resgatar o tradicionalismo da arte pelo bem da arte. Exemplos disso são em Whatever Works, onde a personagem de Evan Rachel Wood (de Across the Universe) muda da área rural dos Estados Unidos para NY para entrar em contato com a atualidade, e no retrato oposto de Midnight in Paris, onde o personagem de Owen Wilson (de Marley & Me) procura se encontrar como artista nos primórdios da boemia parisiense. Os filmes na América se focam nos relacionamentos, enquanto os filmes na Europa se focam no indivíduo.



Allen também provou o quanto sabe construir histórias de drama. Match Point é seu único filme levado puramente com tons de seriedade, sem nenhum alívio cômico nos diálogos. Afinal, em outros trabalhos, até a morte e a traição têm sua comicidade, segundo o autor. Ao mesmo tempo também em que Midnight in Paris é um filme com acontecimentos surreais de ficção, pode-se dizer que Allen está usando os anos 2000 para experimentar coisas novas, e há quem diga que ele perdeu a identidade com isso. Mas mesmo que os filmes mais recentes estejam saindo com caras novas, a qualidade do texto foi mantida a qualquer custo, e a direção tem sido elegante como sempre, repercutindo em um cinema de autoria magnífico.

E é assim que o clarinetista, que começou como comediante de stand-up para autor de peças, e finalmente para o cineasta que o mundo inteiro conhece e aprecia, leva sua própria vida através dos filmes que faz. A coragem de se expor pelo bem de uma boa história e a arte administrada com paixão e essência fazem de Woody Allen um dos melhores cineastas que a cinematografia já conheceu, intelectual e entendedor de tudo que é culto e artístico.

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