Direção: Gary Ross
Elenco: Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson, Liam Hemsworth, Woody Harrelson
Há
cerca de três meses, li a trilogia The
Hunger Games inteira e saboreei cada momento. Na metade do primeiro livro,
já havia me tornado fã das tramas criadas pela autora Suzanne Collins, e estava
completamente cativado pela incrível protagonista Katniss. Tendo ressaltado
isso, analiso a adaptação para o cinema com dois olhos: como leitor da série
original e como apenas espectador do filme.
Uma
verdade universal é de que uma adaptação de livro jamais será 100% condizente
ao original. Os diretores e roteiristas têm permissão de tirar licenças e
modificar passagens do livro pelo bem do visual. Quando se está lendo, sua
imaginação preenche as lacunas visuais, e um filme já faz isso por você e
permanentemente. E The Hunger Games
tirou várias licenças, mas para a sorte dos fãs, nenhuma que alterasse o curso
da história. Porque a impressão foi a de que ler e assistir foi uma experiência
só. A essência do livro estava captada minuciosamente, e do mesmo jeito que
minha imaginação visualizou aquele universo, Gary Ross a colocou em filme.
Apesar de algumas modificações e omissões, a vida de Katniss e dos pobres
cidadãos de Panem estava lá, transportado nos mínimos detalhes.
A
história é futurista, mas em um mundo que não avançou. Por motivos não
especificados, o mundo como conhecemos acabou, e acompanhamos a rotina do que
já foi a América do Norte, que se unificou em um só país chamado Panem.
Controlado na rédea curta por uma Capital totalitária, houve há muitos anos uma
rebelião dos 13 distritos que a cercam, que perderam a guerra e, até hoje, como
forma de imposição de poder e lembrar a todos de que a Capital é quem manda, todos
os anos um menino e uma menina entre 12 e 18 anos são escolhidos de cada
distrito, enviados à Capital e jogados numa arena para disputarem os Jogos
Vorazes, um evento televisionado onde devem lutar até a morte, e só um pode
sair vitorioso. A jovem Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence, indicada ao Oscar
por Winter’s Bone), do miserável distrito
12, se voluntaria no lugar da irmã a ser a escolhida – ou Tributo – da 74°
edição dos Jogos. Junto com o jovem Peeta Mellark (Josh Hutcherson, de The Kids Are All Right), o menino
sorteado, Katniss precisa aprender a canalizar tudo que sabe sobre caça e
estratégias se quiser sobreviver na arena contra outros jovens que podem ou não
estar na mesma situação de amedrontamento que ela.
A
linha que o filme segue é a de “Se for para mostrar a desgraça, joguemos então
até quem está assistindo também”. Combine a direção com a atuação de TODOS os
atores, e o resultado foi de várias cenas que causam angústia. No distrito 12,
onde a população vive na miséria e trabalha em minas para servir a Capital,
ninguém é feliz. O estilo câmera-na-mão usado nesse tipo de situação atordoa, e
prova que o filme é pensado como cinema e arte, não só como um blockbuster para arrecadar milhões. Na
Capital, exatamente como descrito no livro, o luxo é à base da excentricidade.
A moda é extravagante, os gostos são duvidosos, o sotaque é forçado, os pontos
de vista são repulsivos. O nome do novo país serve justamente para indicar o
conceito antigo de panem et circenses,
ou “pão e circo”; os moradores da Capital amam os Jogos, e aguardam o ano todo
para assistir a jovens se destruindo em barbárie. E assim como na moda e nas
atitudes, os cenários da Capital são arquitetados em exuberância, uma “Roma
antiga futurista”, servindo de antítese aos barracos e construções precárias
dos distritos pobres. E finalmente chegando à caracterização dos Jogos, que só
posso dizer que mais fiel impossível. Uniformes, armas, utensílios, a
Cornucópia onde eles se reúnem, e a veracidade dos acontecimentos, assassinatos
impiedosos (ainda que ocultos, no livro são muito mais viscerais), e a câmera
atordoada sempre presente e afligindo. Faltou várias informações de background
do enredo, algumas regras e padrões do “novo mundo”, mas que realmente eram
tópicos sem espaço para serem contados no filme.
Empatado
com a direção, a melhor coisa do filme foi, sem dúvida, o casting. O elenco todo encarnou os papéis com fidelidade, coisa que
agrada os fãs mais que qualquer coisa. Jennifer Lawrence finalmente embarca em
um papel que vai provar que ela não é só uma atriz excelente em filmes
pequenos, mas que também atinge o mesmo nível em estrelato. Josh Hutcherson
surpreende no papel de Peeta, e como o personagem Gale (um amigo de Katniss no
distrito 12) só tem destaque nos próximos dois livros, ainda não deu para
perceber se seu intérprete Liam Hemsworth está no nível dos outros
protagonistas. Para completar, ninguém melhor que o caipira Woody Harrelson no
papel do simplório, porém rude e bêbado mentor Haymitch. O elenco da Capital
forma uma equipe coadjuvante perfeita: Elizabeth Banks fantástica no papel da
excêntrica e bittersweet acompanhante
dos Tributos Effie, Stanley Tucci como o falso simpático apresentador do
programa Caesar, Wes Bentley como o determinado planejador da arena Seneca, e finalmente,
o vilão da saga Donald Sutherland, interpretando o perverso e suave Presidente
Snow. Até os demais atores mais novos, alguns até com rostos conhecidos
(Alexander Ludwig e Isabelle Fuhrman, por exemplo), interpretando os Tributos
de outros distritos, cumprem bem seus papéis. Um dos melhores elencos de um
filme de produção grande dos últimos anos.
A
adaptação do segundo livro, Catching Fire,
já está confirmada com diretor e elenco assinados para retornar. E quem já leu
reparou nas dicas introduzidas no filme que levam à segunda parte, que estreia
em 2013. Aguardem boas classificações e resultados da saga inteira, pois vem aí
uma franquia inesquecível.
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