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domingo, 25 de março de 2012

The Hunger Games

Filme: Jogos Vorazes (The Hunger Games), 2012
Direção: Gary Ross
Elenco: Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson, Liam Hemsworth, Woody Harrelson





Há cerca de três meses, li a trilogia The Hunger Games inteira e saboreei cada momento. Na metade do primeiro livro, já havia me tornado fã das tramas criadas pela autora Suzanne Collins, e estava completamente cativado pela incrível protagonista Katniss. Tendo ressaltado isso, analiso a adaptação para o cinema com dois olhos: como leitor da série original e como apenas espectador do filme.

Uma verdade universal é de que uma adaptação de livro jamais será 100% condizente ao original. Os diretores e roteiristas têm permissão de tirar licenças e modificar passagens do livro pelo bem do visual. Quando se está lendo, sua imaginação preenche as lacunas visuais, e um filme já faz isso por você e permanentemente. E The Hunger Games tirou várias licenças, mas para a sorte dos fãs, nenhuma que alterasse o curso da história. Porque a impressão foi a de que ler e assistir foi uma experiência só. A essência do livro estava captada minuciosamente, e do mesmo jeito que minha imaginação visualizou aquele universo, Gary Ross a colocou em filme. Apesar de algumas modificações e omissões, a vida de Katniss e dos pobres cidadãos de Panem estava lá, transportado nos mínimos detalhes.

A história é futurista, mas em um mundo que não avançou. Por motivos não especificados, o mundo como conhecemos acabou, e acompanhamos a rotina do que já foi a América do Norte, que se unificou em um só país chamado Panem. Controlado na rédea curta por uma Capital totalitária, houve há muitos anos uma rebelião dos 13 distritos que a cercam, que perderam a guerra e, até hoje, como forma de imposição de poder e lembrar a todos de que a Capital é quem manda, todos os anos um menino e uma menina entre 12 e 18 anos são escolhidos de cada distrito, enviados à Capital e jogados numa arena para disputarem os Jogos Vorazes, um evento televisionado onde devem lutar até a morte, e só um pode sair vitorioso. A jovem Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence, indicada ao Oscar por Winter’s Bone), do miserável distrito 12, se voluntaria no lugar da irmã a ser a escolhida – ou Tributo – da 74° edição dos Jogos. Junto com o jovem Peeta Mellark (Josh Hutcherson, de The Kids Are All Right), o menino sorteado, Katniss precisa aprender a canalizar tudo que sabe sobre caça e estratégias se quiser sobreviver na arena contra outros jovens que podem ou não estar na mesma situação de amedrontamento que ela.

A linha que o filme segue é a de “Se for para mostrar a desgraça, joguemos então até quem está assistindo também”. Combine a direção com a atuação de TODOS os atores, e o resultado foi de várias cenas que causam angústia. No distrito 12, onde a população vive na miséria e trabalha em minas para servir a Capital, ninguém é feliz. O estilo câmera-na-mão usado nesse tipo de situação atordoa, e prova que o filme é pensado como cinema e arte, não só como um blockbuster para arrecadar milhões. Na Capital, exatamente como descrito no livro, o luxo é à base da excentricidade. A moda é extravagante, os gostos são duvidosos, o sotaque é forçado, os pontos de vista são repulsivos. O nome do novo país serve justamente para indicar o conceito antigo de panem et circenses, ou “pão e circo”; os moradores da Capital amam os Jogos, e aguardam o ano todo para assistir a jovens se destruindo em barbárie. E assim como na moda e nas atitudes, os cenários da Capital são arquitetados em exuberância, uma “Roma antiga futurista”, servindo de antítese aos barracos e construções precárias dos distritos pobres. E finalmente chegando à caracterização dos Jogos, que só posso dizer que mais fiel impossível. Uniformes, armas, utensílios, a Cornucópia onde eles se reúnem, e a veracidade dos acontecimentos, assassinatos impiedosos (ainda que ocultos, no livro são muito mais viscerais), e a câmera atordoada sempre presente e afligindo. Faltou várias informações de background do enredo, algumas regras e padrões do “novo mundo”, mas que realmente eram tópicos sem espaço para serem contados no filme.

Empatado com a direção, a melhor coisa do filme foi, sem dúvida, o casting. O elenco todo encarnou os papéis com fidelidade, coisa que agrada os fãs mais que qualquer coisa. Jennifer Lawrence finalmente embarca em um papel que vai provar que ela não é só uma atriz excelente em filmes pequenos, mas que também atinge o mesmo nível em estrelato. Josh Hutcherson surpreende no papel de Peeta, e como o personagem Gale (um amigo de Katniss no distrito 12) só tem destaque nos próximos dois livros, ainda não deu para perceber se seu intérprete Liam Hemsworth está no nível dos outros protagonistas. Para completar, ninguém melhor que o caipira Woody Harrelson no papel do simplório, porém rude e bêbado mentor Haymitch. O elenco da Capital forma uma equipe coadjuvante perfeita: Elizabeth Banks fantástica no papel da excêntrica e bittersweet acompanhante dos Tributos Effie, Stanley Tucci como o falso simpático apresentador do programa Caesar, Wes Bentley como o determinado planejador da arena Seneca, e finalmente, o vilão da saga Donald Sutherland, interpretando o perverso e suave Presidente Snow. Até os demais atores mais novos, alguns até com rostos conhecidos (Alexander Ludwig e Isabelle Fuhrman, por exemplo), interpretando os Tributos de outros distritos, cumprem bem seus papéis. Um dos melhores elencos de um filme de produção grande dos últimos anos.

A adaptação do segundo livro, Catching Fire, já está confirmada com diretor e elenco assinados para retornar. E quem já leu reparou nas dicas introduzidas no filme que levam à segunda parte, que estreia em 2013. Aguardem boas classificações e resultados da saga inteira, pois vem aí uma franquia inesquecível.




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