Direção: Zach Braff
Elenco: Zach Braff, Natalie Portman, Peter Sarsgaard
Zach
Braff, famoso por protagonizar a série de comédia Scrubs, estreia como diretor e roteirista em um filme classificado
como comédia dramática, com várias passagens cômicas no roteiro, mas que trata
de uma história genuinamente triste. Até quando procura ser engraçado, há toda
uma melancolia e morbidez por trás do riso. Filme que combina com o personagem
e, como revelado em entrevistas, com o ator também.
Andrew
(Braff) é um ator/garçom em Los Angeles que desaprendeu a sentir alguma coisa.
Tomando medicamentos pesados desde a infância, receitados pelo próprio pai
psiquiatra que queria impedir que o filho sofresse, Andrew leva uma vida anestesiada,
sem prazeres e alegrias. Quando sua mãe morre tragicamente, o rapaz retorna à sua cidade natal em New Jersey, onde abandonou todas as suas raízes, familiares e
amigos. Festas, drogas e reencontros não são o suficiente para despertar o
êxtase, até conhecer Samantha (Natalie Portman, vencedora do Oscar por Black Swan), uma garota cheia de
peculiaridades e com uma mente aberta e positiva para a vida.
Braff
descreve o seu filme como uma história sobre a iniciativa para o despertar e
retomar o controle de sua vida. O personagem esperou 26 anos para a vida
começar, até perceber que ela já havia começado, e era aquilo, o presente, e a
hora era aquela de tomar partido. São grandes crises existenciais que todos
sofrem durante períodos de transição, da infância para a adolescência, depois
para a maioridade onde os “problemas de gente grande” começam. Andrew descobre
em Samantha e nas pequenas mudanças que vão ocorrendo ao seu redor na cidade
que nunca é tarde para descobrir quem você é e se permitir a sentir os prazeres
da vida. Mesmo que isso lhe tenha sido negado através de doses absurdas de
remédios, traumas de infância e um relacionamento ruim com os pais. Não era o
caso específico de Braff, mas não deixa de ser um filme biográfico em certas
escalas, já que o ator diz ter passado por essa anestesia de sentimentos e
depressão durante os seus 20 anos. E com tamanho retrato no roteiro próprio,
direção, atuação, divulgação “cara-a-cara” por todo o país e até escolha da
trilha sonora, podemos afirmar com certeza que Garden State é um filme que pertence a Zach Braff.
As
passagens cômicas são todas sutis, com um humor nas entrelinhas que te abre um
sorriso, mas não te leva a rir pela consciência de que, na verdade, tudo que
acontece no filme é muito trágico e sofrido. O coração do espectador fica na
mão quando Andrew relata algum dos inúmeros causos de tristeza que ocorreram em
sua vida, sem derramar uma única lágrima, sem esboçar qualquer reação. Andrew
representa o que está de errado, Samantha representa o que é necessário para
consertar isso. O enredo não é dos mais originais, mas tudo é tão inteligente,
inventivo e bem escrito, que nos concentramos mais no desenvolvimento do
personagem, e não só da história em si.
Demorei
muito para assistir a Garden State, e
me arrependo profundamente, tamanha a fonte de inspiração que acabou sendo para
mim. Zach Braff, por favor, continue escrevendo.
linda resenha. Concordo com tudo.
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