Direção: David Mackenzie
Elenco: Ewan McGregor, Eva Green
Perfect Sense é um caso raro de roteiro onde dois conceitos
complementares para a existência física e espiritual são colocados juntos numa
arena e conflitados um com o outro. No fim, quem vence: a emoção ou o sentido?
Essa questão levantada se propaga em um cenário “apocalíptico” centrado no
romance de duas pessoas que tentam definir o que é mais forte para cada um. E o
resultado final é esplendoroso.
O
mundo está enfrentando a pior epidemia (e a mais incomum, diga-se de passagem)
que já existiu, tão única que ninguém consegue definir causa e origem. A
“doença” se manifesta da seguinte maneira: a população mundial passa por um
acesso de determinada emoção, que resulta na perda definitiva de um sentido. Por
exemplo: a pessoa sofre um profundo momento de tristeza e arrependimento, e
logo em seguida, perde o olfato. No meio do caos, um chef e uma
epidemiologista, com seus trabalhos ligados ao surto tumultuoso, se conhecem e
se apaixonam; Michael (Ewan McGregor, de Moulin
Rouge) e Susan (Eva Green, de The
Dreamers) desaprenderam a se relacionar por conta de traumas em romances
passados, e aos poucos, enquanto vão enfrentando a perda dos sentidos, passam a
apurar cada vez mais as noções de emoção e sentimento, e se encontram um no
outro exacerbando a força principal, que resgata qualquer um de um momento de
desespero: o amor.
Para
a apreciação de Perfect Sense, é
necessário saber enxergar o mundo com um olhar lírico. Quem espera ver um filme
sobre o extermínio e decadência da raça humana, como em filmes como Blindness ou Contagion, vai se decepcionar. É um drama e, acima de tudo, um
romance. A epidemia é um elemento-chave do enredo para estudar e explorar o
comportamento humano voltado para o positivismo e controle quando tudo parece
desmoronar. A cada evento, o casal é quase que forçado a repensar seus
princípios sobre o amor, aproximação e intimidade, se entrelaçando e buscando
apoio um no outro. Mas afinal, qual lado é maior? Quando chegar a fatídica hora
em que todos os seus sentidos forem tirados de você, pode o amor ser tão forte
e manter unidos dois indivíduos que só podem contar com a emoção de agora em
diante? Basta preparar o coração para sentimentos intensos, assistir ao filme e
descobrir (ou determinar) por si mesmo.
A
direção de David Mackenzie lembra a de Mike Mills no filme Beginners, também estrelando Ewan McGregor. Montagens com imagens e
arquivos footage aleatórios com
cortes rápidos mostram a situação no resto do mundo, transpondo a desgraça a
que alguns se entregaram, e ao controle e aceitação que outros tomaram. O
dualismo ilustrado passa a ideia de que o ser humano não é necessariamente
mostrado como na epidemia de Blindness,
grosseiro, decadente, que vai se atirar na alimária no primeiro indício de fim
do mundo, mas sim como uma raça com seus dois lados, e um deles, o otimista,
quando se aguça a transcendência e se vive de sentimento, se prova totalmente
capaz de gerar forças para a sobrevivência e adaptação. Basicamente, arme-se de
amor que a natureza dá um jeito no resto.
O
romance de Michael e Susan é dos mais bonitos. A química entre os atores, o
sexo bem feito, as cenas de aceitação, tudo angustiante porque no fundo,
sabemos da situação atual deles, e às vezes o pessimismo (ou até mesmo
realismo) fala mais alto. Filme completamente aproveitável e emocionante, único
dentro de seu próprio gênero.
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