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quarta-feira, 21 de março de 2012

O Baú: A Single Man

Filme: Direito de Amar (A Single Man), 2009
Direção: Tom Ford
Elenco: Colin Firth, Julianne Moore, Nicholas Hoult, Matthew Goode





A cor é o aspecto fundamental da imagem. Um filme em preto-e-branco tem uma feição imagética que trabalha com o preenchimento, um com tons pastéis seleciona amenidade, um com cores fortes transmite energia, entre outros exemplos. Saber trabalhar com a cor é uma das armas mais poderosas no arsenal de um diretor, para um efeito até mesmo sensacionalista de ilustração apurada para o espectador. E Tom Ford, famoso estilista com um background mundialmente reconhecido no mundo da moda, estreia no cinema com essa obra sobre uma vida desbotada tentando adicionar algumas cores mais quentes na sua rotina.

O professor universitário George Falconer (Colin Firth, vencedor do Oscar por The King’s Speech) mal se lembra de como levantar da cama e aproveitar o dia após perder seu marido Jim (Matthew Goode, de Match Point), que morreu em um acidente de carro há oito meses. George finalmente decide buscar algum prazer por aí, e ver se consegue sentir alguma coisa nova em um determinado dia que ele decidiu ser o último de sua vida. Charlotte (Julianne Moore, de Crazy, Stupid, Love) e Kenny (Nicholas Hoult, da série Skins) fazem parte das pequenas aventuras e novas empreitadas que George sai à procura.

O tratamento de imagem é a chave que transforma A Single Man em um filme inesquecível. Combinando a direção com o enredo em uma linguagem extremamente criativa, percebemos através da palidez que o personagem George está morto por dentro. Triste e solitário, não consegue enxergar nada mais como algo vivo e intenso. Sua vida perdeu todas as cores e é agora uma tonalidade acinzentada interminável. No dia em que permite um tom novo para sua rotina, George sai para uma noitada com a melhor amiga, desperta uma paixão entusiasmante com um aluno, tem um encontro de pura tensão sexual com um garoto de programa e começa a reparar nos vizinhos sempre carinhosos e nos colegas de trabalho. A cada topada repentina, a tela se enche de brilho, e as cores da imagem se exaltam e se fortalecem, transformando a vida do personagem e a nossa percepção como espectadores de um buraco vazio sem esperanças a uma janela de possibilidades.

O uso dos tons vem com toda a certeza do conhecimento de moda do diretor. Fica físico, quase palpável, o quanto da cor é que se faz o mundo. Nota-se também não só o gosto pelo conceito, mas o reflexo que a história tem sobre Ford: é perceptível o quanto vários elementos do enredo vêm puramente das origens, princípios, opiniões e principalmente gostos do diretor, na preferência sexual, introdução de matérias que lhe causam excitação, medo da perda e até a utilização de cães como animais de estimação – os três cachorros do diretor aparecem no filme. Mesmo sendo adaptação de um livro de Christopher Isherwood, tudo ali é original. E uma coisa que me agrada muito é como o homossexualismo vai e vem casualmente. A história seria a mesma se o personagem fosse heterossexual e tivesse perdido uma esposa ao invés de um marido, coisa que faz do enredo um conto sobre a perda, não sobre um homem gay. Tudo conduzido levemente, sem ser forçoso e muito belo.

No fim das contas, A Single Man lida com a morte, o desejo de se entregar a ela e os prazeres finais que aparecem. Triste, mas da maneira mais emocionante de se entristecer, provocante, excitante e deliciosamente intenso. Escolhi escrever sobre essa surpresa cinematográfica por representar uma miscelânea de sensações e ser ao mesmo tempo um filme impecável em técnica. E que Tom Ford possa nos presentear com muito mais.




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