Direção: Steve McQueen
Elenco: Michael Fassbender, Carey Mulligan
O
diretor italiano Bernardo Bertolucci é conceituado por suas verdadeiras odes
sexuais. Filmes como Last Tango in Paris
e o mais recente The Dreamers têm o
sexo como chave que tranca o enredo, muitas vezes dando a impressão de que
apostou a obra toda nessas cenas, se escondeu nelas e não aproveitou outras
coisas interessantes e proveitosas do filme. Reconheço a qualidade da
filmografia, mas essa, pelo menos, é a minha ideia sobre o diretor. E é quando
o quase-novato diretor e roteirista Steve McQueen apresenta um filme sem
grandes profundidades que Bertolucci aplica, mas com uma aposta tão grande no
sexo e na sexualidade que torna inevitável uma comparação entre os dois
cineastas em pequenas escalas. E o sexo em Shame
está muito presente, mas não de fora agravante. O que é, pelo menos na minha
apreciação cinematográfica, um ponto muito positivo.
Michael
Fassbender (de X-Men: First Class) interpreta
o executivo Brandon, viciado em sexo, que se masturba compulsivamente, vive
rodeado de pornografia e está diariamente na presença de prostitutas e buscando
novas parceiras. Quando sua irmã, a perturbada e infeliz Sissy (Carey Mulligan,
de An Education), reaparece pedindo
abrigo e companhia e tentando reconciliar a relação com o irmão, Brandon passa
a notar o quanto está definhando dentro do próprio vício e despercebendo a
infelicidade e ruína que sua vida pessoal, social e profissional está se
tornando.
Shame é um
filme pesado e carregado. Não é bonito, não é divertido. A intensidade que o
foco no protagonista implica é o que conduz o filme, e o faz muito bem. Como é
um filme que se trata de um personagem – não de um lugar, não de uma história –
o processo de criação das situações em que ele se envolve é admirável e
intercorrelacionado com o próprio universo da obra. Um filme fiel a ele mesmo e
que não sai do próprio contorno. Uma hora isso pode ficar tedioso e até
previsível, mas não de maneira negativa. Permite uma absorção maior do que
aquela vida desgraçada tem a agregar, e o quanto se esconder atrás de relações
sem significado e conexão emocional podem te levar ao desmoronamento.
Considero
Carey Mulligan e Jennifer Lawrence as duas melhores jovens atrizes que
apareceram nos últimos anos. A grande diferença entre elas é que Lawrence já
encaminhou seu gigantesco talento ao cinema de blockbuster e grandes produções, enquanto Mulligan, que apareceu
pela primeira vez em um papel protagonista no simples, porém fantástico An Education, continuou investindo
principalmente no cinema independente e já protagonizou filmes de sucesso como Never Let Me Go e Drive. E em Shame, a
jovem atriz encarna uma personagem intensa e sofrida, e ainda assim
descontraída, e como já esperado, de maneira excepcional. Nos deixa sempre
aguardando ansiosamente pelo próximo filme.
Não
vá esperando que Shame seja um filme
para seu entretenimento. Não é uma coisa leviana para passar o tempo. É um
filme intenso para um público intenso, e com isso determinado, é um bom filme.
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