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sábado, 14 de abril de 2012

Shame

Filme: Shame, 2011
Direção: Steve McQueen
Elenco: Michael Fassbender, Carey Mulligan





O diretor italiano Bernardo Bertolucci é conceituado por suas verdadeiras odes sexuais. Filmes como Last Tango in Paris e o mais recente The Dreamers têm o sexo como chave que tranca o enredo, muitas vezes dando a impressão de que apostou a obra toda nessas cenas, se escondeu nelas e não aproveitou outras coisas interessantes e proveitosas do filme. Reconheço a qualidade da filmografia, mas essa, pelo menos, é a minha ideia sobre o diretor. E é quando o quase-novato diretor e roteirista Steve McQueen apresenta um filme sem grandes profundidades que Bertolucci aplica, mas com uma aposta tão grande no sexo e na sexualidade que torna inevitável uma comparação entre os dois cineastas em pequenas escalas. E o sexo em Shame está muito presente, mas não de fora agravante. O que é, pelo menos na minha apreciação cinematográfica, um ponto muito positivo.

Michael Fassbender (de X-Men: First Class) interpreta o executivo Brandon, viciado em sexo, que se masturba compulsivamente, vive rodeado de pornografia e está diariamente na presença de prostitutas e buscando novas parceiras. Quando sua irmã, a perturbada e infeliz Sissy (Carey Mulligan, de An Education), reaparece pedindo abrigo e companhia e tentando reconciliar a relação com o irmão, Brandon passa a notar o quanto está definhando dentro do próprio vício e despercebendo a infelicidade e ruína que sua vida pessoal, social e profissional está se tornando.

Shame é um filme pesado e carregado. Não é bonito, não é divertido. A intensidade que o foco no protagonista implica é o que conduz o filme, e o faz muito bem. Como é um filme que se trata de um personagem – não de um lugar, não de uma história – o processo de criação das situações em que ele se envolve é admirável e intercorrelacionado com o próprio universo da obra. Um filme fiel a ele mesmo e que não sai do próprio contorno. Uma hora isso pode ficar tedioso e até previsível, mas não de maneira negativa. Permite uma absorção maior do que aquela vida desgraçada tem a agregar, e o quanto se esconder atrás de relações sem significado e conexão emocional podem te levar ao desmoronamento.

Considero Carey Mulligan e Jennifer Lawrence as duas melhores jovens atrizes que apareceram nos últimos anos. A grande diferença entre elas é que Lawrence já encaminhou seu gigantesco talento ao cinema de blockbuster e grandes produções, enquanto Mulligan, que apareceu pela primeira vez em um papel protagonista no simples, porém fantástico An Education, continuou investindo principalmente no cinema independente e já protagonizou filmes de sucesso como Never Let Me Go e Drive. E em Shame, a jovem atriz encarna uma personagem intensa e sofrida, e ainda assim descontraída, e como já esperado, de maneira excepcional. Nos deixa sempre aguardando ansiosamente pelo próximo filme.

Não vá esperando que Shame seja um filme para seu entretenimento. Não é uma coisa leviana para passar o tempo. É um filme intenso para um público intenso, e com isso determinado, é um bom filme.




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