Direção: Richard Linklater
Elenco: Ethan Hawke, Julie Delpy
Gosto
de analisar Before Sunrise e Before Sunset como uma obra conjunta.
Mesmo que haja um intervalo de nove anos entre os dois filmes, assisti pela
primeira vez com o segundo volume já lançado, e a impressão de que um
complementa o outro ficou para sempre, assim como o meu amor pelos filmes, seus
roteiros espetaculares e seus personagens relacionáveis.
A
história é simples. Em Sunrise, Jesse
e Celine (Ethan Hawke e Julie Delpy) se conhecem em um trem cruzando a Europa;
ele americano, ela francesa. Começam a conversar e se dão muito bem logo de
cara, decidindo descer juntos em Viena para se conhecerem melhor. O que deveria
ser apenas algumas horas de conversa fiada acaba se tornando uma paixão
intensa, e à medida que a noite vai caindo e a hora de cada um ir para o seu
lado vai chegando, os dois jovens que ainda não sabem como lidar direito com a
vida adulta passam a dividir seus pensamentos mais profundos e complicados,
discutindo questões da vida, do amor, do universo e de si mesmos. Em Sunset, sem dar muitos spoilers, pegamos
a trajetória de Jesse e Celine nove anos depois do término do primeiro filme,
onde muita coisa mudou, e o dia passado juntos, agora em Paris, é feito de
conversas divididas em tons mais maduros; eles são pessoas novas agora.
Sunrise e Sunset são daqueles filmes obrigatórios
para quem é adorador do cinema. O diretor e roteirista Richard Linklater,
sabendo que os dois protagonistas formavam uma grande porcentagem da razão dos
filmes serem impecáveis e mundialmente renomados, incluiu Hawke e Delpy em
decisões técnicas, permitindo que os dois atores construíssem seus personagens
da maneira que quisessem, inclusive co-assinando o roteiro de Sunset. Os diálogos fazem qualquer um
repensar diversos aspectos das próprias vidas; temas como crenças religiosas,
acaso e destino, opiniões artísticas e políticas, relacionamentos passados e
problemas familiares são discutidos entre os dois.
O
crescimento e maturidade do ser humano é talvez o aspecto mais forte dos
filmes: enquanto em Sunrise eles se
questionavam e não sabiam direito o que pensar sobre as interrogações da vida,
em Sunset, anos depois e com caminhos
mais firmes e estáveis, eles têm certeza do que são e do que querem, e não mais
perguntam, e sim afirmam. Nove anos significaram muito para os personagens,
para os atores e para a história que começamos a acompanhar em 1995,
prosseguimos em 2004 e que talvez encerremos em 2013 – Linklater, Hawke e Delpy
já estão discutindo um possível terceiro volume, mantendo a tradição do
intervalo de nove anos.
O
cenário, chave do enredo, também muda não só geograficamente, mas também em
conceito. Duas pessoas diferentes, jovens adultos com perspectivas, numa noite
em Viena e se deparando com artistas de rua, bares noturnos e uma cidade
dormindo. Depois, duas pessoas com suas opiniões e decisões tomadas, distinções
colocadas à mesa, numa tarde em Paris, somente eles e mais ninguém para
interferir no que é que esteja se formando – ou se reforçando. Enquanto
caminham pelas cidades, o diretor faz uso de longos e bem guiados planos-sequência,
característica marcante dos filmes. Enquanto eles conhecem e sentem Viena e
Paris, o espectador os conhece e os sente também.
No
fim das contas, nos deparamos com a difícil decisão de Jesse e Celine. A
incógnita de Sunrise é desfeita com a
chegada de Sunset, que por sua vez também
é construído em cima de um ponto de interrogação. Afinal, estamos acompanhando
três horas (cerca de 1h30 por filme) de duas vidas em tempo real, e para
informações de background podemos apenas contar com o que os diálogos nos
oferecem. Mas, tanto no primeiro quanto no segundo filme, os dois são obrigados
a enfrentar a pior das decisões: largar ou não sua vida inteira e tudo o que
você construiu para si para poder ficar com alguém... ainda mais com alguém que
você apenas sente que conhece bem?
E
se a delícia que é o relacionamento de duas pessoas cativantes e igualmente
interessantes, as cenas icônicas, as atuações que vêm da alma, a direção se
ligando ao roteiro a nível molecular e a expectativa que o romance nos
proporciona não são motivos o suficiente para querer assistir a Before Sunrise e Before Sunset, a cena musical do segundo filme talvez fale por si
só e faça a jornada valer a pena até para aqueles que não se convenceram. As
histórias eternamente não concluídas de Jesse e Celine são ramificações
inesquecíveis do cinema contemporâneo. Em suma, importantes para a compreensão
do cinema de qualidade e de como se tornar um ícone cinematográfico dentro da
própria simplicidade.
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