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quarta-feira, 11 de abril de 2012

O Baú: Before Sunrise / Before Sunset

Filmes: Antes do Amanhecer (Before Sunrise) / Antes do Por-do-Sol (Before Sunset), 1995/2004
Direção: Richard Linklater
Elenco: Ethan Hawke, Julie Delpy





Gosto de analisar Before Sunrise e Before Sunset como uma obra conjunta. Mesmo que haja um intervalo de nove anos entre os dois filmes, assisti pela primeira vez com o segundo volume já lançado, e a impressão de que um complementa o outro ficou para sempre, assim como o meu amor pelos filmes, seus roteiros espetaculares e seus personagens relacionáveis.

A história é simples. Em Sunrise, Jesse e Celine (Ethan Hawke e Julie Delpy) se conhecem em um trem cruzando a Europa; ele americano, ela francesa. Começam a conversar e se dão muito bem logo de cara, decidindo descer juntos em Viena para se conhecerem melhor. O que deveria ser apenas algumas horas de conversa fiada acaba se tornando uma paixão intensa, e à medida que a noite vai caindo e a hora de cada um ir para o seu lado vai chegando, os dois jovens que ainda não sabem como lidar direito com a vida adulta passam a dividir seus pensamentos mais profundos e complicados, discutindo questões da vida, do amor, do universo e de si mesmos. Em Sunset, sem dar muitos spoilers, pegamos a trajetória de Jesse e Celine nove anos depois do término do primeiro filme, onde muita coisa mudou, e o dia passado juntos, agora em Paris, é feito de conversas divididas em tons mais maduros; eles são pessoas novas agora.

Sunrise e Sunset são daqueles filmes obrigatórios para quem é adorador do cinema. O diretor e roteirista Richard Linklater, sabendo que os dois protagonistas formavam uma grande porcentagem da razão dos filmes serem impecáveis e mundialmente renomados, incluiu Hawke e Delpy em decisões técnicas, permitindo que os dois atores construíssem seus personagens da maneira que quisessem, inclusive co-assinando o roteiro de Sunset. Os diálogos fazem qualquer um repensar diversos aspectos das próprias vidas; temas como crenças religiosas, acaso e destino, opiniões artísticas e políticas, relacionamentos passados e problemas familiares são discutidos entre os dois.

O crescimento e maturidade do ser humano é talvez o aspecto mais forte dos filmes: enquanto em Sunrise eles se questionavam e não sabiam direito o que pensar sobre as interrogações da vida, em Sunset, anos depois e com caminhos mais firmes e estáveis, eles têm certeza do que são e do que querem, e não mais perguntam, e sim afirmam. Nove anos significaram muito para os personagens, para os atores e para a história que começamos a acompanhar em 1995, prosseguimos em 2004 e que talvez encerremos em 2013 – Linklater, Hawke e Delpy já estão discutindo um possível terceiro volume, mantendo a tradição do intervalo de nove anos.

O cenário, chave do enredo, também muda não só geograficamente, mas também em conceito. Duas pessoas diferentes, jovens adultos com perspectivas, numa noite em Viena e se deparando com artistas de rua, bares noturnos e uma cidade dormindo. Depois, duas pessoas com suas opiniões e decisões tomadas, distinções colocadas à mesa, numa tarde em Paris, somente eles e mais ninguém para interferir no que é que esteja se formando – ou se reforçando. Enquanto caminham pelas cidades, o diretor faz uso de longos e bem guiados planos-sequência, característica marcante dos filmes. Enquanto eles conhecem e sentem Viena e Paris, o espectador os conhece e os sente também.

No fim das contas, nos deparamos com a difícil decisão de Jesse e Celine. A incógnita de Sunrise é desfeita com a chegada de Sunset, que por sua vez também é construído em cima de um ponto de interrogação. Afinal, estamos acompanhando três horas (cerca de 1h30 por filme) de duas vidas em tempo real, e para informações de background podemos apenas contar com o que os diálogos nos oferecem. Mas, tanto no primeiro quanto no segundo filme, os dois são obrigados a enfrentar a pior das decisões: largar ou não sua vida inteira e tudo o que você construiu para si para poder ficar com alguém... ainda mais com alguém que você apenas sente que conhece bem?

E se a delícia que é o relacionamento de duas pessoas cativantes e igualmente interessantes, as cenas icônicas, as atuações que vêm da alma, a direção se ligando ao roteiro a nível molecular e a expectativa que o romance nos proporciona não são motivos o suficiente para querer assistir a Before Sunrise e Before Sunset, a cena musical do segundo filme talvez fale por si só e faça a jornada valer a pena até para aqueles que não se convenceram. As histórias eternamente não concluídas de Jesse e Celine são ramificações inesquecíveis do cinema contemporâneo. Em suma, importantes para a compreensão do cinema de qualidade e de como se tornar um ícone cinematográfico dentro da própria simplicidade.




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