Direção: Jonathan Dayton e Valerie Faris
Elenco: Greg Kinear, Toni Collette, Steve Carell, Paul Dano, Abigail Breslin, Alan Arkin
Um
dos maiores rótulos da cultura americana é o termo “loser”, “perdedor”. É designado a todos aqueles que não se encaixam
no padrão da sociedade estabelecido pelos próprios americanos e mídia, os
desajustados que agem da maneira que bem entendem. Esse processo de ser
rotulado de loser é uma grande
manifestação de subculturas nos Estados Unidos, que começa desde a infância nas
escolas, com o problema do bullying,
passa pela adolescência com a exclusão social e atinge a fase adulta com a
rejeição e a falta de conquistas. É talvez o tema mais recorrente em filmes e
séries por ser o problema mais recorrente do país; o deslocamento quando se é
diferente do bando. Sendo assim, Little
Miss Sunshine pega todas as possibilidades que fazem de uma pessoa um loser e as aplica em um único grupo numa
jornada de auto-descobrimento.
A
família Hoover entra numa Kombi amarela e parte com destino à Califórnia, onde
a filha mais nova Olive (Abigail Breslin, de Zombieland, indicada ao Oscar pelo papel) vai participar de um
concurso de beleza mirim. O pai, Richard (Greg Kinnear, de As Good as It Gets), é obcecado pela vitória, mesmo que ele próprio
nunca a alcance. A mãe, Sheryl (Toni Collette, da série United States of Tara), é carinhosa, zeladora e preocupada, não só
com os filhos, mas também com o irmão Frank (Steve Carell, da série The Office), um ex-acadêmico depressivo
e suicida. O filho mais velho Dwayne (Paul Dano, de There Will Be Blood), é politizado, reservado e revoltado com o
mundo, enquanto o avô Edwin (Alan Arkin, de Get
Smart) enfrenta uma crise da terceira idade usando drogas e expondo
qualquer coisa que lhe venha em mente. A viagem acaba tendo um propósito muito
maior, quando a família atravessa ao mesmo tempo uma jornada de renovações,
descobertas, conciliações e destinos novos.
O
filme se foca no princípio de que o nível de “loser” que uma pessoa é se projeta ao seu redor. Cada indivíduo da
família Hoover enfrenta um problema de aceitação e/ou de crise de identidade,
onde tudo está falhando por serem o que são. E se não bastasse a retenção dos
conflitos, estão indo em direção a um concurso onde tudo aparentemente é
perfeito ao olhar – mesmo que esses concursos infantis de beleza sejam
doentios. Os últimos momentos do filme, focados na competição, onde Olive é
claramente uma completa desajustada naquele meio, servem também como uma
crítica ao estilo de vida dos pais e crianças que se submetem à competição nada
sadia que são esses concursos. O nível de competitividade que crianças que
deveriam estar levando vidas normais adquirem, e a obsessão das mães,
geralmente frustradas, que implantam na cabeça das filhas o quanto elas
precisam ganhar aquilo e o quanto são melhores que as outras crianças faz uma
alusão interessante ao estilo de vida que a própria família tem. Olive
obviamente não pertence àquele mundo, pois não é linda, não é plastificada, não
teve sua personalidade anulada e já consegue pensar por si mesma. Mas Richard,
o pai frustrado, crava na cabeça da menina o quanto ser um loser é a pior coisa que pode acontecer na vida de alguém, e o
quanto ela vai se dar mal na vida se não começar a ganhar as coisas. Por sua
vez, Richard está afundando cada vez mais numa fase de decepções e rejeições
profissionais, e exige que a família inteira tenha sucesso em suas empreitadas
para se realizar através delas. Isso é mostrado em cenas onde Richard mostra
desprezo em relação a Frank, por ter “desistido” da vida ao tentar se matar.
Portanto, no universo obsessivo e plástico que é um concurso de beleza, a
família Hoover, nada bonita e cheia de imperfeições, tem de entender uns aos
outros e aceitar as próprias peculiaridades.
Little Miss Sunshine é um filme que funciona do começo ao fim. É
cativante por ser divertido e satírico, e dizer algumas coisas que todos pensam
mas só alguns falam. O roteiro foi escrito a partir de uma notícia de jornal,
onde o roteirista leu que Arnold Schwarzenegger disse para um grupo de
estudantes o quanto ele odiava perdedores. Sendo assim, é coerente enxergar Little Miss Sunshine como uma obra sobre
como os losers estão por todos os
lados, e que você provavelmente é um deles. E que isso não é necessariamente
errado e repreensível, pois um loser
pode ser nada mais que alguém que age da maneira que bem entende e mostra um
grande dedo do meio para o quê a sociedade impõe como belo, como por exemplo,
um concurso de beleza mirim.